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Corrida moldou a inteligência do homem, sugerem cientistas

Falta um estímulo para malhar? Então saiba que o exercício regular melhora as habilidades mentais  - Thinkstock
Falta um estímulo para malhar? Então saiba que o exercício regular melhora as habilidades mentais Imagem: Thinkstock

Gretchen Reynolds

The New York Times

10/01/2013 07h00

Qualquer pessoa cuja determinação para se exercitar em 2013 esteja um pouco fraca pode considerar uma visão científica emergente sobre a evolução humana. Ela sugere que somos inteligentes hoje em dia, em parte, porque há um milhão de anos podíamos fugir e correr melhor por longas distâncias do que a maioria dos outros mamíferos. Nosso cérebro foi moldado e aguçado pelo movimento e, mesmo com as ideias fluindo, continuamos a necessitar de atividade física para que o cérebro funcione de modo ideal.

O papel da resistência física na formação da humanidade vem intrigado os antropólogos há algum tempo. Em 2004, os biólogos evolucionistas Daniel E. Lieberman, de Harvard, e Dennis M. Bramble, da Universidade de Utah, publicaram um artigo no periódico Nature intitulado "Corrida de resistência e a Evolução do Homo", alegando que os nossos antepassados bípedes sobreviveram tornando-se atletas de resistência, capazes de derrubar a presa mais rápida por pura teimosia, correndo e se arrastando atrás deles até que os animais caíssem.

A resistência gerou refeições que forneceram energia para o acasalamento, o que significa que os primeiros bons corredores passaram adiante seus genes. Dessa forma, a seleção natural levou os primeiros seres humanos a se tornarem ainda mais atléticos, escreveram Lieberman e outros cientistas, e seus corpos desenvolveram pernas mais longas, dedos mais curtos, menos cabelo e mecanismos complexos no ouvido interno para manter o equilíbrio e a estabilidade durante a locomoção na posição vertical. O movimento moldou o corpo humano.

Mas, ao mesmo tempo, em uma ocorrência que, até recentemente, muitos cientistas viam como independente, os seres humanos foram se tornando mais inteligentes. Seu cérebro foi aumentando rapidamente de tamanho.

Hoje em dia, os seres humanos têm um cérebro que é cerca de três vezes maior do que seria de se esperar, dizem os antropólogos, de acordo com o tamanho corpóreo de nossa espécie em comparação com outros mamíferos.

Tamanho do cérebro

Para explicar esse cérebro desproporcional, os cientistas evolucionistas têm apontado para ocorrências como ingestão de carne e a necessidade de nossos ancestrais interagirem socialmente. Os primeiros humanos tiveram que planejar e executar caçadas em grupo, o que exigia complicados padrões de pensamento e, acredita-se, que foi o que os recompensou com um sucesso evolutivo em nível social e intelectual. De acordo com essa hipótese, a evolução do cérebro foi impulsionada pela necessidade de pensar.

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Mas agora alguns cientistas estão sugerindo que a atividade física também tenha desempenhado um papel fundamental em tornar nossos cérebros maiores.

Para chegar a essa conclusão, os antropólogos começaram a olhar para os dados existentes sobre o tamanho do cérebro e a capacidade de resistência em uma variedade de mamíferos, incluindo cães, raposas e lobos. Eles encontraram um padrão notável. Espécies como cães e ratos, que possuem uma capacidade inata de alta resistência, presumivelmente evoluíram ao longo de milênios e também possuem um grande volume cerebral em relação ao tamanho do corpo.

Os pesquisadores também analisaram experimentos recentes em que ratos e camundongos foram criados para serem corredores de maratona. Animais de laboratório que, voluntariamente, corriam mais milhas sobre rodas foram cruzados, resultando na criação de uma linhagem de animais de laboratório que se destacaram na corrida.

Depois de várias gerações, esses animais começaram a desenvolver níveis naturalmente altos de substâncias que promovem saúde e crescimento de tecido, incluindo uma proteína chamada fator neurotrófico derivado do cérebro, ou BDNF. Essas substâncias são importantes para a resistência. Elas também são conhecidas por impulsionar o crescimento do cérebro.

O que tudo isso significa, disse David A. Raichlen, antropólogo da Universidade do Arizona e um dos autores de um novo artigo no periódico Proceedings of the Royal Society Biology sobre a evolução do cérebro humano, é que a atividade física pode ter ajudado a tornar os seres humanos primitivos mais inteligentes.

Em nossos primeiros ancestrais caçadores, disse ele, os mais atléticos e ativos sobreviviam e, como acontece com os ratos de laboratório, passavam adiante as características fisiológicas que melhoraram sua resistência, incluindo níveis elevados de BDNF. Eventualmente, esses primeiros atletas tinham quantidades suficientes de BDNF correndo por seus corpos, o que permitiu que parte migrasse dos músculos para o cérebro, onde estimulou o crescimento do tecido cerebral.

Aqueles seres humanos primitivos, então, aplicaram sua crescente capacidade de pensar e raciocinar para caçar melhor, tornando-se mais bem alimentados e mais bem-sucedidos do ponto de vista evolutivo. Estar em movimento os tornou mais inteligentes, e ser mais inteligentes lhes permitiu moverem-se de forma mais eficiente.

E de tudo isso veio, por fim, uma capacidade de compreender matemática superior e inventar iPads.

Ainda essencial

O ponto amplo dessa nova noção é que, se a atividade física ajudou a moldar a estrutura de nosso cérebro, então é bem provável que ela continue a ser essencial para a saúde do cérebro hoje, disse John D. Polk, professor associado de antropologia da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign e coautor, com Raichlen, do novo artigo.

E há suporte científico para essa ideia. Estudos recentes têm mostrado, segundo ele, que o exercício regular, mesmo a caminhada, leva a habilidades mentais mais robustas, "que começam na infância e continuam na velhice".

É claro que a ideia de que correr atrás de presas pode ter ajudado a impulsionar a evolução do cérebro humano é apenas uma hipótese, disse Raichlen, e quase improvável.

Mas ela é atraente, disse Lieberman, de Harvard, que já trabalhou com os autores do novo artigo.

"Eu concordo fundamentalmente que há uma base evolutiva profunda para a relação entre um corpo saudável e uma mente saudável", disse ele, uma relação que torna o termo "exercite sua memória" mais literal do que a maioria de nós poderia imaginar, e fornece um poderoso incentivo para sermos ativos em 2013.